Introdução ao Rock Brasileiro


"Rock brasileiro? Não existe rock brasileiro!" essa a costumeira reação dos mais puristas, para os quais só existe rock de verdade no lugar onde o gênero nasceu, os EUA.

Do ponto de vista do purismo, eles têm razão, mas, por outro lado, o que comumente se entende por rock brasileiro é o rock feito por brasileiros, com influências da música e/ou cultura brasileiras. Do mesmo modo que, por exemplo, o rock inglês, o rock alemão e o rock italiano têm características distintas entre si, cada um sofrendo influências da música e cultura de seus países.

O Brasil tem roqueiros especializados não em rock brasileiro, mas sim em rock estrangeiro feito no Brasil, imitando fielmente modelos estrangeiros, inclusive cantando em outras línguas.

O inglês, idioma que nos anos 60 firmou-se como universal, assim como o próprio rock, firmou-se como um esperanto musical. Música fácil de se fazer e de se entender em qualquer parte do mundo. Esta linhagem de grupos brasileiros dedicados ao rock estrangeiro vem de longe, começando pelos Playing's em 1957/1958 e passando pelos Beatniks (anos 60), Sunday, Light Reflections, Lee Jackson (anos 70), Maria Angélica Não Mora Mais Aqui (anos 80) e os mais recentes Pinups, Dr. Sin e Teahouse Band. Repare que já havia grupos brasileiros imitando fielmente o rock norte-americano em 1957/1958, praticamente logo após o estouro do rock nos EUA e, por tabela, em todo o mundo.

Tal agilidade do Brasil em imitar os EUA deve-se a anos de prática, após adorarmos e imitarmos tantos ídolos como Bing Crosby e Frank Sinatra em filmes, discos e revistas, sem falar no rádio e na televisão, presentes no Brasil desde, respectivamente, 1922 e 1950.

O rock (ainda com o nome menos genérico e mais dançante de "rock and roll"), ao lado do hamburguer, da coca-cola e carros rabo-de-peixe, foi divulgado e vendido como um detalhe da progressista "American way of life". Os EUA tomaram conta do mundo todo, não só do Brasil, graças a seu poderio econômico e sua chamada "política de boa vizinhança", preferindo dominar mais pelas idéias que pelas armas, importando cultura dos outros países e devolvendo-a devidamente "norte-americanizada".

No caso do Brasil, basta lembrarmos o sucesso de Carmen Miranda em Hollywood, a bossa-nova feita por norte-americanos como Stan Getz (saxofonista norte-americano cuja bossa-nova fez tanto sucesso que muitos pensam ser ele brasileiro) e a influência do baião em grandes compositores e arranjadores como Burt Bacharach e a dupla Jerry Leiber & Mike Stoller (além do rock inglês; basta reparar na marcação da bateria em hits como "She Loves You" e "A World Without Love").

No Brasil, o rock chegou logo, mas apenas como um gênero entre mil outros. A primeira pessoa que gravou um rock no Brasil foi Nora Ney (nascida em 1922), cantora de MPB e música dançante em geral.

E a primeira pessoa a gravar um rock composto aqui (isto em 1957) foi Cauby Peixoto, a música era "Rock And Roll Em Copacabana", de Miguel Gustavo (1922/1972), compositor mais famoso por sambas satíricos como "Café Soçaite" e "Morengueira Contra 007", marchinhas ufanistas como "Pra Frente Brasil" e jingles como o da cachaça Tatuzinho, ou seja, tudo menos rock.

E Betinho (Alberto Borges de Barros), nosso primeiro "guitar hero", aquele do grande hit "Neurastênico" (lançado em 1954 como fox-trot e legítimo precursor do rock brasileiro), sempre tocou de tudo, não somente rock, inclusive tornando-se músico evangélico nos anos 60.

O acompanhamento instrumental de muitos discos de Tony e Celly Campello coube ao acordeonista Mario Gennari Filho, egresso do baião e música sertaneja.

Muitos outros ídolos da primeira geração do rock brasileiro, como Carlos Gonzaga e Wilson Miranda, não cantavam apenas rock. O próprio Roberto Carlos começou imitando João Gilberto. Só o distanciamento histórico de anos mais tarde possibilitou-nos ver que a chamada "era do rock" havia começado oficialmente em 1954.

A jovem guarda


A 22 de agosto de 1965, inaugurou-se o movimento cultural & comercial batizado Jovem Guarda pelo publicitário Carlito Maia (que cerca de quinze anos depois divulgaria outro grande ídolo popular, Luís Inácio Lula da Silva).

Seguindo o exemplo dos "cultos" a Elvis e aos Beatles, a jovem guarda divulgava não somente música, mas também programas de televisão, revistas, filmes, chaveiros, vestuário, gíria e todos os subprodutos correlatos. Musicalmente, o estilo jovem guarda, também chamado de "iê-iê-iê"por influência do "yeah, yeah, yeah" de vários hits dos Beatles e seus imitadores, pode ser resumido como uma mistura de pop-rock europeu, twist, bossa-nova e até marchinha. Mais tarde, em 1969, Roberto Carlos, o grande ídolo da jovem guarda, abandona o estilo. Vários cantores, como Paulo Sérgio, Amado Batista e Sidney Magal, imitaram a musicalidade da JG de forma mais estilizada, ou melhor, estereotipada e simplificada. Com letras mais emocionadas e diretas, constituindo o gênero conhecido pelo nome não muito politicamente correto de "música para empregadas", no início dos anos 80, como "brega".

Muitos artistas, como Raul Seixas nos anos 70, o Língua de Trapo nos 80 e Falcão nos 90, sobrelevariam o brega com letras inteligentes e satíricas. A maior objeção que críticos da época e revisionistas de hoje fazem à jovem guarda é sua "ingenuidade" e "alienação", ou seja, as letras só falavam de amor, dança e "brasa, mora", distanciadas dos problemas da juventude e do próprio país. A desculpa bem plausível para este fato era a situação política brasileira desde 1964, nada democrática.


O estilo do rock brasileiro


Em 1967 surge um estilo de rock brasileiro bem menos alienado, que critica o governo tanto quanto possível. Feito pelos adeptos do movimento tropicalista: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Nara Leão, os Mutantes e Rogério Duprat.

Bem resumiu Erasmo Carlos: "O tropicalismo era uma jovem guarda com consciência das coisas."

O tropicalismo pretendia misturar todo tipo de música, nova ou antiga, brasileira ou estrangeira, sofisticada ou cafona, sem preconceitos. Muitos apontam nesta abertura total o efeito colateral muito criticado de "popificar" de vez a MPB, além de ressuscitar a cafonice (ou, como se diria depois, a "breguice") do bolero e do samba-canção. Outros, contudo, conseguiam fazer rock brasileiro nacionalista no melhor sentido, sem paternalismos ou protecionismos, desde cerca de 1969. Jorge Ben (Jor) uniu o rock ao samba e mantém o melhor de ambos, seguido de perto por Osvaldo Nunes.

Raul Seixas, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Fagner e os Novos Baianos fizeram o mesmo com o rock e os ritmos norte-nordestinos. E nos anos 90 artistas como os Raimundos, Chico Science e Boi Mamão fizeram o caminho inverso, incorporando o baião a seu rock hardcore.


O Country-Rock e o Rockabilly dos brasileiros

O country-rock a brasileira tem sido bem desenvolvido por Erasmo Carlos, Eduardo Araújo, Sá & Guarabyra (com ou sem Rodrix), Nalva Aguiar e outros. Rockabilly brasileiro desde os anos 80 é com Eddy Teddy e seu Coke-Luxe, Kães Vadius, Luiz Octavio & Os Quatro Olho, A Grande Trepada e outros. Alguns, como S.A.R. e Cascavelettes, dedicaram-se ao psychobilly, variante mais barulhenta e psicótica (daío nome), seguindo estrangeiros como The Cramps e The Meteors.

O Hard, Heavy-Metal e os Glitters dos brasileiros

Os mais barulhentos hard e heavy-rock e suas mil ramificações (thrash, death-metal) tinham entre seus representantes brasílicos o Módulo Mil, Patrulha Do Espaço e o Golpe De Estado. Nos anos 90, temos Viper, Angra e Sepultura, este último o primeiro grupo brasileiro a alcançar renome internacional. O chamado glitter-rock, muitas vezes flertando com a androginia, destacou entre seus correspondentes nacionais Edy Star e os Secos & Molhados.

O Punk-Rock brasileiro

Os punk-rockers, adeptos do rock mais simples e direto, avessos àcomplicação do rock progressivo, à acomodação dos superstars de rock e às injustiças sociais em geral, não poderiam deixar de ter irmãos brasileiros, em sua facção mais niilista e radical, mais "hardcore", como: AI-5, Lixomania, Olho Seco, Garotos Podres, Cólera, Inocentes. Não Religião e Ratos de Porão (estes últimos também conseguiram um bom público fora do Brasil). E os punks brasileiros menos niilistas e mais irônicos incluem o Verminose, de Kid Vinil (que chegou a usar o nome Magazine durante algum tempo), as Mercenárias e o Camisa de Vênus. Punks que aprendessem mais de três acordes eram automaticamente promovidos a new-wave. No Brasil, carinhosamente chamada "niuê". Muitos eram ex-punks, como o Ira!, o 365 (ex-Lixomania) e o Legião Urbana (ex-Aborto Elétrico). E os que já nasceram new-wave incluem Gang 90 e As Absurdetes, Blitz, DeFalla e Kid Abelha.

O Rock Inglês dos brasileiros

Enquanto isso, as mutações do rock nos países líderes do gênero, EUA e Inglaterra, eram fielmente seguidas por muitos brasileiros. Note que o rock, música dinâmica por excelência, não admite com- patrimentos estanques. Grupos como Mutantes (com Rita e Arnaldo), Terço, Joelho de Porco e Os Incríveis eram ecléticos demais para se encaixarem em apenas um ou outro estilo de rock. Os Beatles, separados oficialmente em 1970, tiveram continuadores de seu ecletismo e combinação de espontaneidade criativa & perfeição formal em todo o mundo. No Brasil, a honra coube aos Mutantes, Lobos, Beto Guedes, Tavito, 14-Bis, Renato e Seus Blue Caps e O Terço.

O Rock Progressivo dos Brasileiros

O chamado rock progressivo (ou progressista) de Yes, Emerson, Lake & Palmer e outros, procura unir o rock a melodias e arranjos elaborados, muitas vezes com influências de música erudita ou outros gêneros populares diferentes do rock, teve entre seus adeptos por aqui O Som Nosso De Cada Dia, Terreno Baldio, os Mutantes (já sem Rita Lee e Arnaldo Baptista) e A Barca Do Sol e Moto Perpétuo. Os Rolling Stones, fiéis ao rock and roll mais simples e dançante, eram os grandes mentores do Made In Brazil, Erasmo Carlos, o Bixo Da Seda e Tutti-Frutti com ou sem Rita Lee.

Os fatores e influências do rock no Brasil


A Imprensa

Na segunda metade dos anos 70 o rock brasileiro já tinha boa parte das bancas reservadas para si. A imprensa especializada em rock começou ainda nos anos 50, com revistas como Festa De Brotos e Baby Face. Na década seguinte, revistas como Os Reis Do Iê-Iê-Iê seriam bem complementadas por publicações especializadas em televisão, como Intervalo e Sete Dias na TV. O jornalismo roqueiro atingiria a maturidade nos anos 70, com a edição brasileira do jornal norte-americano Rolling Stone (1972 e 1973), a revista/jornal Rock, A História E A Glória (1974-77) e as revistas Pop (1973-79) e Música Do Planeta Terra (infelizmente só três edições), além da página semanal Rock coordenada por Carlinhos "Pop" Gouveia no jornal Folha De S. Paulo. O surgimento da revista Bizz foi um dos três grandes acontecimentos do rock brasílico no ano de 1985.

A Revista Bizz (Showbizz)

O segundo acontecimento foi o primeiro festival Rock In Rio, cuja realização em plena época de Carnaval foi julgada por muitos como estratégica, até mesmo uma provocação, para possibilitar a completa dominação do rock no Brasil. Para o bem ou para o mal, muitos críticos, nacionais e estrangeiros, previram que daqui em diante a música brasileira teria grande influência do rock, principalmente o heavy-metal.

Os Festivais

O terceiro acontecimento do ano foi mais sutil: o Festival dos Festivais, o último grande festival de televisão (descontando um Novo Festival da MPB da TV Record em 1992). Jurados e participantes deram grande ênfase ao rock; embora houvessem sambas e chorinhos concorrentes, o palco do festival foi ostensivamente montado "como um show de rock"(segundo o press-release do evento). Até a música-tema, encomendada ao tecladista Cesar Camargo Mariano, era um rock, já a partir do nome, "Fest-Wave". O Brasil tornava-se definitivamente o país do rock e geralmente do mais barulhento, pesado, violento e negativo.


As Influências

Todas as mutações e derivações do rock chegaram imediatamente ao Brasil (com radialistas e lojistas importadores ágeis e espertos compensando a ocasional inércia das grandes gravadoras), e logo tiveram seus imitadores e adaptadores.

O rock instrumental, ao estilo mais polido dos ingleses Shadows ou mais "raçudo" dos norte-americanos Ventures, teve muitos seguidores fiéis, destacando-se os Jet Black's, os Jordans, os Bells e os Clevers (até mudarem de nome e de estilo em 1965, para os Incríveis).

A primeira geração do pop-rock inglês, muito dançante porém mais melódico e "articulado" que o norte-americano, de cantores como Cliff Richard (cuja banda de apoio eram os Shadows), foi imitado no Brasil por, entre outros, Renato e seus Blue Caps e Roberto Carlos.

A exemplo da Inglaterra, o pop-rock feito em países como França (Richard Anthony, Françoise Hardy), Alemanha (Manuela, Ralf Bendix) e Itália (Rita Pavone, Peppino di Capri e mil outros) também refletia o estilo da música popular de cada um desses países, e todos foram muito bem recebidos no Brasil, inclusive regravados em versões em português.

O "high-school rock", bonitinho e bem comportadíssimo (tão expurgado quanto possível da negritude do grande ancestral do rock and roll, o rhythm & blues), de Pat Boone, Paul Anka, Neil Sedaka, Connie Francis, foi uma escola (sem trocadilho) seguida aqui por Tony e Celly Campello, Ronnie Cord, Cleide Alves, Carlos Gonzaga e mil outros.

O rockabilly (rock com forte influência country, de "rock"+"hillbilly", caipira) de Eddie Cochran, Gene Vincent & His Blue Caps (agora você sabe a quem homenageia o grupo de Renato Barros), Ricky Nelson, Chuck Berry e outros foi entusiasticamente praticado por Luizinho e Seus Dinamites, Eduardo Araújo, Alberto Pavão e Baby Santiago.

E os EUA, do alto de sua origem anglo-saxã, não escaparam da influência de seus vizinhos mexicanos ou da "politicamente boa vizinha" Cuba. Basta lembrarmos o "rock chicano" de Richie Valens e sua adaptação do folclore "La Bamba", tradição continuada por Trini Lopez, muitas gravações de Johnny Rivers, Carlos Santana, Los Lobos e tantos outros; no Brasil, tivemos Galli Jr., cantor e compositor transformado por uma gravadora em Prini Lorez.

Não esquecendo que muitos clássicos do pop, rock ou não, são versões e/ou adaptações do pop estrangeiro ou mais antigo, bastando lembrar hits de Elvis como "It's Now Or Never" (a italiana "O Sole Mio") ou "Wooden Heart" (a alemã "Muss I Denn"); no Brasil, o campeão das versões antes da Era do Rock foi Haroldo Barbosa, e após 1954 o trono foi dividido entre Fred Jorge e Rossini Pinto. Enfim, o rock, brasileiro ou não, ainda era música da "juventude feliz e sadia" (frase criada pelo empresário Antonio Aguilar) e mais uma opção, ao lado do samba, bolero e tantas outras, no dial do rádio ou nos catálogos das gravadoras até 1965.

O estilo do pop brasileiro e alguns roqueiros


Fãs do pop mais puro, comercial, simples, cantável e dançante sempre podiam contar com os Fevers, Incríveis, Wanderley Cardoso, Roupa Nova e tantos outros.

Sem falar nos menos nacionalistas, que só gravavam em inglês, como Sunday, Pholhas, Morris Albert (autor do standard internacional "Feelings",de 1974) e Chrystian (que com seu irmão Ralf formaria uma das melhores duplas sertanejas dos anos 80). Mauro Celso e "Farofa-Fá", Ponto & Vírgula e "Chacrilongo", Medida Certa e "Coco, Só Coco" são apenas três artistas dos anos 70 cujo humor descompromissado e precedeu o besteirol dos anos 80 e 90, do Espírito da Coisa, Falcão, Mamonas Assassinas e outros. Com a diferença de que a liberação dos costumes possibilitou a estes últimos utilizar generosas doses de baixo calão e escatologia.

Alguns eram mais vanguardistas, dedicando-se a experiências com sonoridades menos comuns, tais como Arrigo Barnabé e o dodecafonismo, Akira S. e truques eletrônicos, o "tecnopobre" bem-humorado da dupla Mulheres Negras, o grupo santista techno Harry. Outros, pelo contrário, seguiram a corrente dos "revivalists", procurando retomar as sonoridades dos anos 60, como os neopsicodélicos do Violeta De Outono ou o Ira! em sua segunda fase de "mods" à brasileira. ("Mods", abreviatura de "modernists", designa os jovens ingleses adeptos das últimas novidades em matéria de roupas e música norte-americana, especialmente soul. Grupos mod locais dos anos 90 incluem Reles-pública e The Charts.) Não podemos esquecer as grandes fusões do rock com a música negra, que resultariam no funk, soul, disco music e, mais tarde, no rap e hip-hop. Saltam à memória os nomes de Roberto Carlos em seus discos de 1968 a 1971, Tim Maia, Cassiano, Hyldon, Tony Tornado, Banda Black Rio, Lady Zu, Frenéticas e o ubíquo Jorge Ben.

Mais tarde, nos anos 80/90, teríamos Ed Motta, e a explosão do reggae brasileiro, com os grupos Skank e Cidade Negra. Além, é claro, de Celso Blues Boy, André Christovam, Nuno Mindelis, Nasi & Os Irmãos Do Blues e outros expoentes do blues à brasileira.

A explosão mundial do rap em 1985 motivou bons similares brasileiros como Região Abissal, Thaide e DJ Hum, Racionais MCs e, nos anos 90, Gabriel O Pensador (cujo sucesso foi tamanho que poucos se incomodam com o fato dele ser branco e bem-nascido). E a dance-music (disco-music versão anos 90) tem bons representantes nacionais em DJs como Renato Lopes e cantoras como Gottsha, Corona (radicada na Itália e que fez sucesso mundial com "The Rhythm Of The Night") e Patricia Marx.

Em 1982/1983 tivemos uma explosão de grupos: Barão Vermelho, Blitz, João Penca & Seus Miquinhos Amestrados, Herva Doce, Gang 90, Sempre Livre, além de artistas-solo como Lobão, Léo Jaime, Lulu Santos e Cazuza (egresso do Barão Vermelho em 1986)...

Alguns retomavam o espírito descompromissado dos anos 60 e caracterizaram o que um jornalista chamou de "nova jovem guarda" ou, como admitiu o próprio Roberto Carlos, uma jovem guarda com letras menos ingênuas e mais liberais. Isso para falar somente nos cariocas. Em São Paulo surgiram: Ira!, Ultraje A Rigor, Titãs, RPM, Mercenárias, Muzak, Ness, Fellini, Tres Hombres, 365...

Por esta época o grande público ficou sabendo que rock no Brasil não era só Rio e São Paulo. De Brasília vieram os Paralamas do Sucesso, Plebe Rude, Legião Urbana e Capital Inicial.

O Rio Grande do Sul contribuiu com os Engenheiros do Hawaii, DeFalla, TNT, Cascavelettes, Nenhum De Nós, Replicantes, Atahualpa e Os Panques, Graforréia Xilarmônica. Não esquecendo mineiros como o Sexo Explícito.

Uns poucos seguiam o bom exemplo dos melhores roqueiros ingleses e norte-americanos, pesquisando as raízes de sua própria terra. Lobão e Cazuza foram os primeiros de sua geração a incorporarem elementos de samba e bossa nova ao rock brasileiro. O Plebe Rude usaria o ritmo do baião em hits como "A Minha Renda". Outros já citados, como Raimundos, Mundo Livre S.A. e Chico Science, não hesitariam em assumir influência da música norte-nordestina (os dois últimos grupos atendem também por mangue-beat). Finalmente o rock brasileiro afirmava-se não só como música, mas também como estilo de fazer música e mesmo de viver.

Tal como os Mutantes já haviam afirmado no início dos anos 70: "Se a gente fizer um LP só de samba, será um LP pop, porque nós somos músicos pop."

Não podemos esquecer que nos anos 80, tanto no Brasil como lá fora, a mulher deixou de ser apenas cantora, compositora ou mera figura decorativa e símbolo sexual, afirmando-se de vez como plenamente igual ao verdadeiro sexo frágil, ou seja, o homem. Rita Lee e Lucinha Turnbull deixaram de ser exceções. Marina, as Mercenárias, Vange Leonel e Tetê Espíndola foram apenas algumas que se revelaram capazes de ser instrumentistas, arranjadoras e tudo que até então fosse considerado "coisa de macho".

Tal integração sexual consolidaria-se nos anos 90 com Cássia Eller, Fernanda Abreu (ex-Blitz), sua xará Fernanda Takai (do Pato Fu) e outras ilustres damas.

E os anos 90 têm sido uma época de extrema diversidade para o pop-rock. O grupo mineiro Pato Fu mistura technopop, música caipira e Mutantes. Marisa Monte revelou-se a rainha das cantoras ecléticas, misturando rock, jazz, samba, chorinho e tudo o mais. Arnaldo Antunes, ex-Titãs, continua sua fusão de rock, MPB e poesia concreta.

O Graforréia Xilarmônica tempera jovem guarda com guitarras à moda de Steve Vai. Os Paralamas unem o rock ao reggae, rap e música baiana. Esses são apenas quatro exemplos de um cenário amplamente variado. Você acaba de ler uma finalização formal para uma história que tentamos resumir e que, além de já bem longa, não tem fim: a história do rock brasileiro. Pois então, será que não existe rock brasileiro?